Ir para o conteúdo

Doria veta criação de órgão de combate à tortura

17 de janeiro de 2019

O governador de São Paulo, João Doria, vetou integralmente o projeto de lei 1257/2014, aprovado em dezembro pela Assembleia Legislativa, que instituía o Comitê e o Mecanismo Estadual de Prevenção e Enfrentamento à Tortura. A decisão foi publicada nesta quinta-feira (17) no Diário Oficial do Estado.

Os mecanismos de prevenção e combate à tortura são órgãos formados por peritos independentes com pleno acesso a locais de privação de liberdade, sem aviso prévio. O trabalho desses especialistas consiste em averiguar a prática de tortura, fazer entrevistas e registros audiovisuais, produzir relatórios e elaborar recomendações. Sua criação está prevista no Protocolo Facultativo à Convenção da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, ratificado pelo Brasil em 2007.

Segundo o texto que justifica o veto do governador, a lei aprovada permitiria a fiscalização do Executivo pelo Legislativo, extrapolando o limite de separação dos poderes. A administração diz que “não é admissível a criação de órgão vinculado ao Poder Legislativo com poderes para fiscalizar as atividades dos estabelecimentos privativos de liberdade, mediante a concessão de amplos poderes de ingresso nesses estabelecimentos”.

De acordo com a coordenadora de projetos do IDDD (Instituto de Defesa do Direito de Defesa) Vivian Calderoni, “o monitoramento seria realizado por peritos independentes, e não por representantes do Legislativo, como sugere a justificativa do veto”. Para ela, ainda, o governador tem agora a responsabilidade de apontar caminhos para resolver o impasse.

“Se a administração estadual não aceita a criação de um órgão sob a alçada do Legislativo, ela tem a obrigação de sinalizar a criação de um órgão dentro da estrutura do Executivo. O que não pode acontecer é que o Estado com a maior população prisional do Brasil não possua um órgão para prevenir e combater a tortura.”

Segundo dados de junho de 2016 do Ministério da Justiça, São Paulo abriga mais de 240 mil presos, o que equivale a quase um terço da população carcerária do país. Além das unidades prisionais, a Fundação Casa, os hospitais psiquiátricos e as comunidades terapêuticas também estariam sujeitos às inspeções dos peritos. Hoje, apenas três estados (Rio de Janeiro, Pernambuco e Rondônia) já possuem mecanismos de prevenção e combate à tortura nos moldes do órgão nacional, instituído em 2013 pela ex-presidente Dilma Rousseff.

Em relatório publicado em março de 2016, o então relator da ONU contra a tortura, Juan Méndez, afirmou que os esforços do país para acabar com a prática só serão efetivos quando os Estados implementarem órgãos independentes de monitoramento. No mesmo sentido, o relatório sobre o Brasil publicado em novembro de 2016 pelo Subcomitê de Prevenção e Combate à Tortura da ONU afirma que “o impacto e a efetividade do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura criado pela lei federal depende significativamente do estabelecimento de uma rede de mecanismos em âmbito estadual”.

relacionados

Não existe nenhum post relacionado.

newsletter

Acompanhe nossas ações em defesa dos direitos humanos e do fortalecimento da justiça. Assine nossa newsletter e receba análises, notícias e atualizações sobre nossa atuação.